Diante da
inclinação tecnicamente perfeita da decolagem de um avião, entre muitos olhares
simples de espanto com o barulho das turbinas, outros maravilhados com a
engenharia e a ciência que foram capazes de colocar um objeto tão pesado entre
as nuvens, outros nem ligavam para nenhum desses detalhes, porque já tinham
perdido o encanto nos olhos ou preferiam fingir que tinham perdido o encanto para
mostrar que já são “adultos”, eu observava a cidade de Fortaleza.
Quanto mais alto
a aeronave ficava, mais a cidade ia diminuindo, ficando mais distante e foi
nesse momento, quando ela ficava pequena, que notei a grandiosidade de
Fortaleza.
Enquanto os
carros iam dominando as principais avenidas e o comércio terminava de acordar
alguém os observava de cima, não era Deus, muito menos Zeus, mas era um
fortalezense que tinha ganhado a oportunidade de ver a cidade por cima e que
desejava que todos tivessem a mesma oportunidade. Lembro-me bem do que disse
esse fortalezense e essas foram suas palavras:
“Vejam
essa floresta de concreto que domina a cidade. Quem diria que um dia
chegaríamos a tal progresso. Progresso esse que faz as próprias leis e coloca
seus influentes no poder e assim passam por cima do bem estar de todos que
compõe a nossa cidade e sufocam as poucas áreas verdes que ainda tentam
sobreviver.
Olhem
esse verde que todos admiram daqui de cima. É pouco, mas é belo. Notem que ele
é aquecido por todas as vidas que estão diretamente ligadas com ele e essas
vidas aquecem o desejo de sobrevivência, mas a tribo que defende esse tipo de
progresso e que conseguiu cativar alguns da nossa população vai comendo as
beiradas dessa área verde, porque já queimaram a língua uma vez e sabem que
sopa quente a gente come é pelas beiradas.
E
não é só o verde que emociona de cima. Ainda é possível ver o branco das dunas
andantes que, assim como o verde, tenta sobreviver e que estão ligadas de
alguma forma, porque fazem parte de um mesmo ecossistema. Não só essas duas
regiões fazem parte do mesmo ecossistema. Nós também fazemos parte desse
ecossistema, assim como o concreto e assim como o grupo que defende esse tipo
de progresso agressivo. Estamos sendo agressivos com nossa própria vida e tudo
isso porque aos poucos vamos perdendo a capacidade de enxergar que estamos
todos ligados.
Enquanto
não enxergarmos isso a nossa cidade vai sendo tomada pela desarmonia, vai
perdendo a luz que nos motiva a defender a nossa região. Esqueceram que somos a
Terra da Luz? Não é da luz amarela dos postes que falo, mas da luz que nos
harmoniza, que nos faz ver que somos pertencentes a esse município. Já não
conhecemos nem nossa história e agora vamos apagar a luz do futuro?
Cadê os fortalezenses?
Nós
somos a mistura de diversos povos e com toda certeza o legado indígena corre em
nossas veias. Onde estão os descendentes dos tabebas, dos pitaguarys, dos
tapuais e dos potiguaras que lutaram bravamente contra portugueses e holandeses
na tentativa de defenderem sua região? Onde estão os descendentes dos
portugueses e holandeses que defenderam seus fortes e também contribuíram para
o surgimento da cidade as margens do rio Pajeú? Onde estão os descendentes
daqueles que iniciaram um grande movimento cultural chamado Padaria Espiritual?
Onde está o
fortalezense que existe dentro de você?”
Esse era o fortalezense que esbraveja dentro de mim. Onde está o seu?
Dica de blog: FARAÓ DO CEARÁ
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