quinta-feira, 17 de maio de 2018

Vamos falar de Uber?

Fonte: Tribuna do Ceará

A Câmara dos Vereadores de Fortaleza aprovou ontem (15/05) a lei que regulamento a utilização de aplicativos de transporte como, por exemplo, o Uber e nas postagens dos principais jornais da cidade o que mais eu lia eram pessoas revoltadas com a aprovação, no meio de tudo isso percebi o “mar” de desinformação e conhecimento sobre o assunto, por isso resolvi escrever.



Talvez parte da revolta das pessoas seja porque o Uber, em nota, disse que 10 mil motoristas não conseguiriam atender as regras, que o valor do serviço poderia subir até 80% e por aí vai. Para começar, bora baixar essa bola, Uber, pode guardar o sensacionalismo no bolso e lembrar que quando esse tipo de regulamentação foi incluída na Política Nacional de Mobilidade Urbana, em 1 de março de 2018, a empresa comemorou a aprovação e lá estava incluído que os municípios iriam definir as taxas que seriam cobradas, agora sim podemos falar de verdade do assunto.

Fonte: O Povo
E já que estamos falando de transporte, então estamos falando de Mobilidade Urbana e não é tão difícil notar que um dos maiores problemas do assunto é a utilização de carros. Só para termos uma noção, em 2014 atingimos a marca de 1 automóvel para cada 4,4 habitantes no Brasil e a média de ocupantes de um carro em São Paulo no ano de 2011 era de 1,4 pessoas. Se você da sua janela de ônibus, em pé apertado ou passando de bicicleta olhar para dentro dos carros notará que a quantidade de ocupantes dificilmente chega em 3 pessoas. Facilmente você nota uma ou duas pessoas, chega até a ser um pouco injusto para você que está apertado dentro do busão.

Percebem que nesses dados ainda não existem informações isoladas de transportes por meio de aplicativos? Porque é algo novo e após ler o livro “Mobilidade Urbana e cidadania” de Eduardo Alcântara de Vasconcellos fiquei me perguntando quais seriam os impactos no trânsito com esses aplicativos. Enviei um email para o autor e ele me chamou atenção para dois fatos interessantes: esses aplicativos são carros, com eles estão associados todos os impactos de um carro, e a tarifa desses serviços são “mais acessíveis”. Nosso principal problema são os carros, estamos incentivando mais carros, estamos pensando em políticas públicas para carros e estamos deixando de lado quem realmente pode resolver o problema da mobilidade, transporte público.

Com relação a tarifa destes aplicativos, elas são realmente menores em relação ao sistema de taxi e mais pessoas possuem acesso. Aí que mora o perigo, é realmente interessante que as pessoas tenham acesso a utilizar todo tipo de transporte, porém quando incentivamos esse tipo de sistema e permitimos que ele funcione de forma mais solta, haverá um grupo de pessoas que trocará seus deslocamentos de transporte coletivo pelo carro que te deixa na porta de casa, dessa forma o transporte coletivo perde na competição com esses aplicativos. O coletivo perde para o individual e a estrutura da cidade não aguenta tanto veículo individual circulando.

Não estou desconsiderando que em algumas cidades esses aplicativos já existem em modalidade compartilhada, que é uma alternativa interessante visando preencher ao máximo o veículo. Contudo o nosso principal foco deveria ser em avançar nossas políticas públicas pensando no coletivo, desde transporte coletivo e a bicicleta, integração entre sistemas. Falar de tudo isso é importante antes de focar na regulamentação.

Como estamos falando de uma cidade, por isso a noção de coletivo, precisamos lembrar que as vias são de uso comum e esses aplicativos utilizam as vias para lucrar e causam impactos nessas vias. Sei que já existem impostos com relação ao uso particular de um veículo pensando nos impactos das vias, contudo, só para terem uma ideia, o motorista do Uber que mais fez viagens em Fortaleza tem uma média de 20 viagens diárias, seria o equivalente a duas voltas e meia na Terra... não estou brincando, esses são dados disponibilizados pela empresa em comemoração de dois anos aqui em Fortaleza. A pessoa que mais utilizou o aplicativo já percorreu 9121km.... esses são só os maiores números, tem muita coisa ainda aí. Pense um pouco nos impactos disso tudo. A regulamentação só está cobrando 2% por viagem.

Válido lembrar que em março foi aprovado uma lei que inclui o transporte por aplicativo na Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) e que lá diz que os municípios vão fazer cobranças. A lei 204/2018 de Fortaleza coloca os pontos que já estão na PNMU e tem como taxa por viagem esses 2%, mas coloca que pode ser reduzido caso a empresa do aplicativo realize algumas ações que compensem os impactos dos seus serviços, ações em Mobilidade Urbana (isso os jornais não te mostraram, né? Isso algumas pessoas não te falaram, né?).

Outra exigência interessante é que a empresa compartilhe algumas informações com os órgãos públicos. Essas informações são sobre origens e destinos, tempo, distâncias, horários entre outras. São informações essenciais para planejarmos políticas públicas, porque além de ônibus, topic, metrô, taxi, teremos esses aplicativos com um impacto considerável nas vias da cidade. Então precisamos compreender esses dados para melhorar a cidade. Entretanto, tem um dos pontos da lei que não concordo, que diz que os veículos precisarão ter no máximo cinco anos. Aí sim vou concordar com a nota emitida pelo Uber quando diz que isso elitiza o sistema. Por outro lado, os carros terão identificação por adesiva e acredito que não preciso falar a importância disso depois das mortes de motoristas de aplicativos que tivemos esse ano.

A regulamentação desse tipo de transporte não é algo nova, seis países regulamentaram em 2016; em 2017 a União Europeia começou a discussão sobre a regulamentação. Por isso queria dizer que a lei não é de toda ruim e não vai impactar tanto negativamente quanto estão dizendo, válido lembrar que esses sistemas já estão impactando nossa cidade. Não podemos deixar de lado o olhar mais técnico, porque são argumentos construídos com ciência, seriedade. De leis na base do achismo e do que político A ou B acredita nós já estamos cheios e não estão funcionando, por mais que eu acredite que vereadores, de um modo geral, não tiveram esse olhar técnico.
Lucas Gonçalves Monte


FONTES:

“Câmara de Fortaleza aprova projeto de lei que cria regras para aplicativos de transporte” – Tribuna do Ceará:

"Uber estima que preço das viagens deve subir 80% em Fortaleza se Projeto de Lei for aprovado" - Tribuna do Ceará:

"Uber, 99 e Cabify comemoram regulamentação do transporte por aplicativo aprovada pela Câmara" - G1:

Alteração da Política Nacional de Mobilidade Urbana:

Regulamentação dos aplicativos pelo mundo:


Dois anos de Uber em Fortaleza:

segunda-feira, 30 de abril de 2018

O casal.


Olha aqui, eu, mais uma vez escrevendo ou tentando escrever sobre o cotidiano de uma cidade violenta, mas que em determinadas ocasiões ela respira amor, paixão e saudade.
Antes de começar aviso logo caro e cara leitora são impressões fatos momentos de uma semana no mês de março que me fizeram em dias espaçados lembrar um pouco do sentido desse negócio chamado vida.

Em uma semana que tinha para ser “perdida” no no meio do tempo aconteceram coisas que não se acontece todo dia.

Momento 1: o quase assalto.

Quando você mora em uma cidade onde se torna comum os assaltos em ônibus ficamos apreensivos a cada parada que o bus dá, e como todos os dias na minha ida a UECE, sobe um casal um homem branco e uma mulher negra. O ônibus estava meio cheio, mas tinha umas cadeiras vagas, eles pulam a catraca e sentam os dois do meu lado e o diálogo começa.

-       O que você tem? Não está com medo da Gente fazer a limpa no busão?
Eu estava viajando nos meus problemas e pensando em coisas nada ver com nada. Mas respondi.

-       Opa, rapa no que? Isso é um assalto?
O casal respondeu:
-       Pra falar a verdade mano estamos é com fome, sabemos que o povo aqui tão morrendo de medo pesando que isso aconteça. Mas na verdade queremos apenas água e comida.
     
Eu que to no caminho para ser um Professor, vejo aquela cena e não penso duas vezes. Abro a bolsa e entrego a minha marmita e a garrafa de água. Na medida em que eles vão comendo falamos sobre a vida, futuro e passado, e que uma das metas da vida deles era voltar a estudar e ter um teto fixo, e o casal ao me perguntarem respondi que, hoje estou reorganizando (mais uma vez) e caminhando.
Foi aí que o mano falou:
-       Você está é acuado com alguma coisa.
E ele estava e está certo.

Momento 2: os idosos.

Como alguns sabem eu estou me aventurando de bike pela cidade, vendo ela com outros olhos, sentindo, cheirando tendo outras sensações. Em uma dessas minhas pedaladas paro no passeio público (sempre paro lá) pois ali traz várias lembranças boas e tudo.  Quando sento no banco e estou escrevendo no caderninho azul pequeno, um casal de idosos deveriam ter os seus 70 e poucos anos, sentaram do meu lado, e me observaram e o homem falou:

-       Bom dia jovem está tudo bem contigo?
-       Opa, está sim.
-       Pois não parece, rsrsrs (risos) um olhar como o seu e um caderno na mão está escrevendo algo que tem sentimentos.
-       Sim sim.
-       Olha, se for pra escrever escrava! Tudo o que sente entregue a ela, esse seu olhar é o mesmo olhar que eu olho para minha companheira a mais de 40 anos.

Aquilo me impactou, mas também como não ficar impactado com esse depoimento? Eu fiquei observando os dois e em um momento daquela manhã me vi ali de várias formas. Continue observando o quanto eles estavam felizes e rindo, pareciam que ali o tempo parasse e existisse apenas o tempo deles, o mundo deles, o momento deles. Ao final do descanso deles eles voltaram e falaram:

-       Aproveite, e escreva. Esse aqui sempre me escrevia lembro como se fosse hoje, o que tinha Tudo para ser um dia normal, ele vinha com uma poesia e o eu te amo, e me fazia e ainda me faz feliz.

Nessa hora a gente não aguenta, observa e chora. E veio o abraço e completaram.

-       Você é um jovem de um coração apaixonado, sabemos isso porque eu sempre estou assim, portanto viva.

Fortaleza, cidade doida e violenta, mas que nessas horas a gente ver o amor acontecer, e isso tudo me deram força para continuar seguindo na caminhada, que sinceramente não sei onde vou parar, mas continuo caminhando.

Nessas duas situações eu me vi, na primeira poderia ser eu ali no ônibus, querendo fazer um assalto. No segundo no passeio eu me vi de duas formas.
A primeira sentando naquele mesmo banco com uma companheira ao lado, e a segunda me vi alí sozinho, olhando para o mar com o mesmo caderno na mão, mas tenho certeza que estarei feliz com toda a história que construí na vida e as duas com o mesmo coração apaixonado porque como falava Belchior “ meu coração selvagem tem essa pressa de viver “.

Diego Costa Lima



Coração Selvagem - Belchor








segunda-feira, 19 de março de 2018

Diário de um suburbano - Fortaleza 16 de março de 2018


Essa semana bateu uma bad, uma bad quase do tamanho dos meus 25 de vida. Ora, o assassinato covarde de Marielle, vereadora, mulher negra de luta, não foi um por acaso.

2018 começa com várias notícias violentas, mortes, agressões e tudo que você puder imaginar. Hoje eu vejo bem as coisas que eu posto nas redes sociais, até mesmo a blusa que eu ando, porque se for uma blusa vermelha isso pode acarretar uma agressão no meio da rua por achar que sou socialista (e sou mesmo) ou essa da mesma cor pode significar um símbolo de uma facção criminosa.

Esses dias eu estava pensando, o que eu to fazendo? E na boa, eu não sei o que to fazendo. As lutas, os movimentos, as reivindicações, eu não sei pra onde vai dar, porque além de você se preocupar com isso tudo, você tem que ficar ligado nas balas perdidas que não são perdidas, porque essas sempre tem um alvo, basta olhar para você mesmo, pode ser eu, ou você.

Nesse sentido de sentimento de impotência você ou eu, ficamos receosos até para tomar uma cerveja na praça, ir na praia e tomar um bronze, ir no forró e dançar, ficamos receosos até para dar para se posicionar politicamente.

Com um cenário de golpe desde 2016, não sabemos do futuro, a Educação que tem que “transformar, emocionar e revolucionar “ (H.G.L) não sei se estamos fazendo essas três coisas com essa reforma do ensino médio e retiradas de disciplinas que fazem professor (a) e estudante refletir, perceber e intervir na realidade em que cada um está inserido.


Além de todas essas bads, e extremas bads ainda temos que nos preocupar com a nossa própria situação de vida. Temos que estudar (alguns (as)) trabalhar (todos (as)) e aguentar as pressões que sempre acontecem seja da família, dos amigos (as), da vida, e até de você mesmo.

É triste você ver “pessoas” comemorando a morte de Marielle, ver comentários machistas e racistas nas redes anti-sociais. “Bem feito”, “comunista tem que morrer mesmo”, “ uma neguinha a menos “.

Eu no ônibus vejo 3 caras e 1 mulher, todos subiram em pontos diferentes, a mulher sem grana pulou a passagem, os outros 3 homens pularam também. Quase todos vendendo seus bombons e salgadinhos trabalhadores, esse que sobrou não tinha nada e sentou no meu lado e falou mais ou menos assim:

“Jovem eu não sou ladrão, sei que todos que estão aqui tem medo de mim. Ora! Nego ta sujo descalço, querendo só ir pra casa, meus pais tão lá em cima, mal posso esperar pra ver eles.”

Fiquei sem palavras sem reação. Parece que o tempo parou e me veio a mente tudo que já aconteceu comigo, coisas boas, ruins, sorrisos e choros. Depois de uns segundos falei:

“Cara a gente pode ter nossas realidades distintas, e tudo. Mas uma coisa tem que nos unir. Ta vendo essas outra pessoa que também pularam a catraca e nós dois temos em comum? Nós quatro pulamos a catraca e somos negros.”

E lhe dei um abraço.

Acho que esse foi um dos abraços mais sinceros que eu já recebi nessa vida. Eu para retribuir o abraço dei minha merenda simples: um pão para ambos ficarem de boas. Ele pegou e falou.

“Não cara, fique alguém tem que sobreviver e lutar pela gente”

E ele desceu.

Não sei se vou ver esse mano novamente, não sei como ele vai dormir, nem sei se ele está Vivo nesse momento. Mas foi impressionante como eu precisava dessa conversa. Por um momento um breve momento me sentir vivo.

Em épocas de crise, e fim de trajetórias e mudanças de planos algo sempre vem pra mostrar que você tá e tem que lutar por aquilo que você acredita.


Hasta lá victoria siempre!

Diego Costa Lima



Foto: Bruna Freitas 




sábado, 24 de fevereiro de 2018

A quem damos o futuro? Professores ou políticos?


Icó, cidadezinha pequena do interior  do Ceará, tombada pelo Instituto  do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e local de morada de gente que como eu passou a vida inteira olhando a beleza arquitetônica, o por do sol no Largo do Thenberge; porém, além disso, uma cidade que sofre com o mesmo cenário nacional de hoje, a retirada de direitos do povo. As imagens de ontem (22/02/18) se mesclam entre orgulho, pela junção de tantos movimentos sociais lutando pelos professores, pelo povo, pela educação básica de Icó; mas também de indignação e revolta pela forma com que ainda somos criminalizados por gritar a plenos pulmões que o que é de direito do povo, dos professores não será tomado!

A prefeita em exercício, autora do projeto que diminui a carga horária dos professores pela metade, se quer teve a empatia e a sensibilidade de olhar para aqueles que dependem deste único salário para sobreviver, e abro um parêntese aqui com o gosto amargo da indignação, vocês sabem o que é ver uma professora chorando porque não vai ter como pagar as contas? Sabem o que é ouvir um relato de uma professora falando que vai ter que vender dindim pra poder pagar as passagens do filho que estuda no Instituto Federal do Ceará, localizado no município de Cedro? Sabe o que é sentir que como futura professora, você pode ser aqueles que choram hoje por ter direitos pisoteados em sua cara, salário atrasado, ser recolocada pra locais a longa distancia de onde você mora? E ai eu coloco o slogan do atual governo do Icó, escolhido pela digníssima prefeita, “CIDADE FELIZ”... ou seria (in)feliz? E ai é com maior nó na garganta que lembro e revejo as cenas de ontem, gente de luta, sendo reprimida por um Secretário de Segurança TOTALMENTE despreparado, crianças sendo atingidas, uma senhora de 86 anos foi atingida com spray de pimenta, polícias rindo como se fosse satisfatório realizar esse tipo de ato e ai eu pergunto a vocês: reprimir povo que somente levou a voz como instrumento de luta é justo? É justo ter meu direito de ir e vir bloqueado a manda da prefeita e vereadores?

Ontem, aparentemente, eu fiz uma viagem no tempo, e adivinhe, vim parar em 1964, e acredite, os tempos sombrios não parar; mas como a luta também não para, e nunca deve parar, vos digo, LUTO pra nós, pros professores, pros movimentos sociais, pro povo em geral, é VERBO!!

Rita de Cássia Guedes de Lavor
Graduanda em Letras Espanhol (UAB/UFC)
Moradora da cidade de Icó - CE


Fonte: Desconhecida (Facebook)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

(In)feliz 2018


O ano mal começou e já estou vendo coisas não muito interessantes, temos aí pouco mais de 2 meses de ano e, de fato o ano só começou depois do carnaval. As precarizações na educação de uma forma geral continuam, a passagem do ônibus aumentou, os prazos para os envios de trabalhos já estão acabando, as bolsas de permanência universitária na UECE diminuíram (eram 900, passou para 1.200 e a agora só tem 500 bolsas), minha bolsa continua atrasada como sempre, violência na cidade para quem quer e para quem não quer, e até intervenção militar teve e estamos em 2018 não em 1964.
Como disse no começo do texto o ano tá muito “bugado”, aliás desde o presidente vampiresco invadiu o poder por meio de um golpe as coisa estão desse modo, (des)reformas indo para votações em Brasília, reforma da previdência, do ensino médio, ajustes fiscais, aumento de salários para os parlamentares e tudo o que há de bom para o Estado (que Estado?), para a família (que família?) e para a economia (que economia?).
Ontem foi um dia em que fui ao posto de saúde tentar marcar uma consulta para março (sim para o próximo mês). Tive que madrugar e sair de casa quase as 5:30 da manhã (sendo que o atendimento ao posto só inicia-se as 7:00 da manhã) e andar pelas ruas calmas da minha quebrada do Jardim União. Chagando ao posto de saúde já tinha pessoas na fila, idosos, crianças, e pessoas no geral. Quando a jovem que entrega a senha chega ela avisa logo:
-“AS MARCAÇÕES DE CONSULTA PARA O PRÓXIMO MÊS AINDA NÃO ESTÃO ACONTECENDO”
Depois dessa informação as pessoas começaram a ir para as suas casas, mas eu e outras três senhoras fomos indagar essa informação, chegando na jovem ela pega e fala:
“Só estamos atendendo casos graves pois só temos um médico.”
Fico me perguntando que caso sérios seriam esses, a pessoa tem chegar lá quase morrendo, né?
Outra coisa que me chamou muito a atenção nesse início de ano bugado, foi a intervenção militar no Rio de Janeiro. Gente estamos em 2018 e ouvi de pessoas que essa foi a melhor saída. Se atentarmos um pouco para a história do Brasil ou da América Latina, percebe-se que intervenções militares fazem é derramar mais sangue, “masss” não qualquer sangue, esse tem classe social e cor, esses plasmas, hemácias, leucócitos e plaquetas, são de pessoas negras, e LGBTs que por coincidência sua maioria moram nas periferias. Aí você pode fazer a pergunta? “ Mas o crime organizando não está dentro das periferias? Certo, mas as organizações criminosas não estão apenas na perifa, essas organizações estão nas mais diversas classes sociais.
E o fato em que me deixou com mais raiva, aconteceu no numa cidade do interior do Estado do Ceará, Icó, onde uma prefeita, Laís Nunes, (que seu marido já foi prefeito da mesma cidade) decidiu juntamente com os vereadores diminuir pela metade o salários do professores assim como sua carga horária, com a justificativa de redução de gastos, e o professores e professoras foram na câmara municipal para protestar sobre o ocorrido, mas de uma forma arbitrária foram recebidos com spray de pimenta no rostos e armas apontadas para os mesmos. Esse fato lembra o que aconteceu aqui e Fortaleza na greve de 2011 dos professores onde esses foram agredidos pela guarda municipal. Aí eu deixo aqui o comentário de uma amiga minha: “a guarda municipal responde ao prefeito, então quem foi que mandou? Reflitam. 
Todo apoio aos professores e professoras do Icó! vai ter luta!
E para finalizar nem reuniões de estudo nas Escolas podemos fazer, porque até ali a polícia está nos vigiando e perguntando de qual partido nós somos.
Corte nos orçamentos, intervenção militar, agressão e perseguição aos professores, em que ano nós estamos 1964 ou 2018?
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foto: fetamce.org.br

domingo, 12 de novembro de 2017

Um ensaio informal sobre hierarquia

Fonte da imagem
Não me sinto a vontade para dizer se hierarquias são boas ou ruins em determinados ambientes, porque não tenho leitura suficiente sobre o assunto, mas já tive a oportunidade de ler algumas pessoas falando sobre hierarquia e nos últimos anos conseguir ter uma vivência em algo que não existe uma hierarquia instituída, mas uma outra forma de organização, mais horizontal, que também funciona. Contudo, algo que tem me chamado a atenção é que mesmo na ausência institucional de hierarquia e em esforços para evitar o surgimento da hierarquia, a sensação da mesma pode existir e é sobre esse ponto que quero falar.


Acredito que assuntos que envolvem poderes sempre é algo interessante, porque está diretamente ligado com a forma como as pessoas vão interagir. Ora, se entre as pessoas que tenho um vínculo de amizade noto que temos igualdade de poderes, então me sinto mais a vontade para agir, contudo se por algum momento me sentir inferiorizado, talvez eu não consiga agir tão tranquilamente e pode ser que nem existam ações que me coloquem em um “patamar menor”, mas isso de alguma forma esteja comigo.

Notemos que boa parte das nossas relações, mais institucionais, existem pessoas em posições superiores e inferiores: na escola com diretoria, coordenação, corpo docente, corpo discente; na universidade com a reitoria, pró-reitorias, faculdades e centros, departamentos, coordenações de Cursos, docentes e discentes; religiões com suas lideranças sejam mundiais, nacionais, regionais ou locais; empresa com a chefia, divisões, gerências. Note ainda que boa parte de nós temos contato com isso desde cedo e crescemos no meio disso, ou seja, temos uma história de vida guiada em meio a hierarquias, logo não é de se espantar que em nossas estruturas esteja a hierarquia e com ela todo nosso histórico de vivências e sensações.

(Daqui para frente utilizarei conceitos apresentados na seção “Determinismo Estrutural e Linguagem” apresentados no livro “Cognição, Ciência e Vida Cotidiana” que possui textos do biólogo Humberto Maturana e foi publicado pela Editora UFMG)

Quando falo em estrutura estou querendo dizer que nós temos uma estrutura que nos forma, contudo isso não nos define, porque se nos definisse, a cada mudança estrutural deixaríamos de ser quem somos e ao acontecer isso nem nós mesmos seríamos capazes de nos reconhecer a cada mudança, mas isso não acontece, porque existe algo “maior” que permite que possamos nos identificar, ou seja, algo que não muda mesmo quando nossa estrutura muda. Sendo mudança estrutural desde o nosso visual até aprender alguma coisa.

Agora o que isso tem a ver com o assunto abordado inicialmente? Tem tudo a ver, porque se existe algo que precisa se conservar enquanto estou mudando, logo alguma coisa precisa definir o que pode ou não mudar minha estrutura para que assim se mantenha uma conservação que defina quem sou.  Algo que cada ser vivo carrega consigo e pode explicar o ponto que cada entidade está hoje é sua história de vida, ou seja, nossas estruturas mudam de acordo com o que já vivemos e buscando conservar quem somos. Em outras palavras, somos capazes de nos autoproduzir, autorregular e manter interações que nos modifiquem apenas se nossa estrutura permitir, isso é chamado pelos biólogos Humberto Maturana e Francisco Varela de autopoieses. Mas o que isso tem a ver de fato com o assunto?!!! Nossa história de vida está repleta de hierarquias.

Ora, se nossa própria história de vida está repleta de hierarquia e essa história nos ajuda a definir nossas mudanças estruturais de modo que uma determinada parte de nós mesmos seja conservada, então é de se esperar que aceitemos mais facilmente uma organização hierárquica, porque ela já está em nossa estrutura com nossa história de vida, contudo o que acontece se retirarmos de nossas interações essa organização? Tentaremos mantê-la enquanto nosso organismo não aceitar ou entender que essa mudança não nos será destrutiva.

Isso é tão forte que podemos até saber disso, ter consciência, mas não quer dizer que iremos conseguir internalizar tão facilmente, porque precisamos quebrar com toda uma história de vida que nos empurra para um lado. Comentei no início que tive a oportunidade de nos últimos anos ter uma vivência sem hierarquia instituída, mas lembro claramente que nos dois primeiros anos (ou até a metade do segundo ano) eu sentia uma hierarquia. Não por existir hierarquia, mas porque eu estava há pouco tempo tendo essa vivência em relação a toda uma vida experimentando o contrário daquilo, então quando meu organismo começou a entender interações e ideias que estavam do outro lado, como um todo, foi quando a hierarquia começou a se desfazer em mim.

Olha o curioso, não estava institucionalizado, mas a forma como eu estava interagindo estava criando essa organização. A interação que garantia isso poderia surgir das mais diversas formas, desde eu me sentir inferiorizado, até um conflito mal resolvido que acabou virando confronto, a não exposição direta e sincera de ideias, sentimentos e por aí vai. Algo que já notei também  nessa vivência é quando um grupo quer tomar ações, a todo custo, que interferem no agir de outro, então esse grupo, de alguma forma, tenta desestabilizar alguém que represente um segundo grupo e esteja mais próximo ao primeiro por acreditar que essa pessoa representa uma barreira e esteja acima, ou seja, aparece um assédio moral ascendente, mas isso só existe, porque o primeiro grupo vê o segundo como superior, enquanto talvez não haja essa superioridade.

 E foi quando essa modificação estrutural aconteceu que tudo mudou, porque foi possível que eu entendesse que nenhum grupo que estava interagindo com o meu era superior ou inferior, mas estávamos em níveis diferentes por termos responsabilidades diferentes. Isso se aplica até no grupo que estava compondo a coordenação, não era superior ao que eu estava, apenas com responsabilidades diferentes e sabe qual foi o resultado disso? As relações melhoraram, porque todos tinham “poderes” iguais, mas cada um no seu nível e respaldados por um acordo comum. Em outras palavras, o grupo que eu fazia parte possuía autonomia de ações dentro do próprio grupo, mas também a responsabilidade das consequências, por isso não possuíamos autonomia total, porque os outros grupos também possuem suas autonomias. As ações que interferiam nas ações de outros grupos precisavam de decisões tomadas pelos grupos envolvidos, mas sem ferir o acordo comum a todos.


Entretanto, quando ainda sim queremos tomar ações que estão para além do nosso grupo, acabamos por desconsiderar outros grupos e isso é, de certa forma, a negação do outro. Ao fazermos isso não estamos utilizando de autonomia, mas sim de soberania, logo criamos uma hierarquia por meio de ações momentâneas, mesmo que ela não esteja institucionalizada. Entendamos que autonomia não é fazermos tudo que queremos, mas aquilo que nos é possível diante de certas condições e isso, não necessariamente é uma hierarquia. Assim, em nossas relações podem sim existir hierarquias definidas ou elas estarem na forma como estamos interagindo. 

Lucas Gonçalves Monte